16 de agosto de 2007

Virtruvio responde

Exmo. Sr. Eng. Demétrio Alves,

Consideramos uma honra que tenha feito o favor de se nos dirigir, embora lamentemos só agora nos apercebermos das suas tentativas de contacto. Efectivamente, durante o período de férias em que estivemos afastados do país, não acedemos à internet e foi com a mais absoluta surpresa que agora contactamos com a carta que nos dirigiu.

Esclarecemos, portanto, desde já, que somos, na sua expressão, um colectivo. Ou seja, somos dois casais, amigos, que entendemos em conjunto redigir e lançar a Petição on-line que conhece. Durante muito tempo debatemos entre nós se pessoas que não estão na vida politica, que não pertencem a partidos, que não conhecem pessoalmente V.Exa., que não sabem como se organizam candidaturas a uma Câmara Municipal, podiam e deviam fazer alguma coisa. Entendemos entre todos que era preciso fazer algo e escolhemos a via da Petição, pelas razões que lhe indicamos:

Somos empresários no Concelho de Loures, há vários anos. Nunca nos cruzamos com V.Exa. pessoalmente, nem beneficiamos directamente de nenhum acto de gestão seu, mas olhando para trás somos capazes de reconhecer nos nossos negócios e na nossa vida do dia-a-dia que no seu tempo, havia um rumo, uma vontade, um comando, uma dinâmica, que nunca mais se viu depois da sua saída.

Confessamos que fomos dos que acreditamos no actual Presidente da Câmara. Assumimos pois que votamos nele, todos os quatro. Em pouco tempo, descobrimos o nosso engano e o nosso desencanto. Já ninguém fala de Loures e Loures já não é referência em lado nenhum. Tínhamos e temos de tentar corrigir o nosso erro, daí querermos todos fazer qualquer coisa.

Eis a justificação para o apelo que lhe fizemos por intermédio da Petição. Pareceu-nos que V.Exa. saiu da presidência da Câmara zangado com as circunstâncias e com as dificuldades da criação do concelho de Odivelas. Portanto, pensamos, que bastaria a sua vontade, agora que as águas estão separadas, para que pudesse voltar. Para nós parecia-nos que dependeria de o convencer a si. Assim, o apelo é-lhe dirigido e a mais ninguém.

Compreenderá que mantemos o anonimato porque os interesses que mantemos em Loures, dos quais dependem a nossa vida e bem-estar, não podem ficar à mercê de reacções adversas da Câmara e Governo, que sendo do mesmo partido, hão-de ter formas de exercer represálias em conjunto se o entenderem.

Julgamos ter percebido as objecções que apresenta à hipótese de ser de novo Presidente de Loures. Nada percebemos quanto ao funcionamento interno dos partidos e das suas escolhas e esperamos sinceramente não ter contribuído para que se criem obstáculos ao seu regresso, mas que pelo contrário, o seu partido, entenda que o nosso reconhecimento pelo seu trabalho e protagonismo é um reconhecimento que se estende a muita gente que conhecemos e com que contactamos ou trabalhamos.

O actual Presidente só o é, porque o Sr. Eng. não foi candidato nas últimas eleições. Se não já teria passado à história.

Perante isto, escapa-se-nos a razão pela qual pode o seu partido não querer vencer as eleições em Loures. Será que há algum acordo que o público não conhece? Será que o seu partido está satisfeito com a governação do Sr. Carlos Teixeira? Se tal acontecer, só nos resta pedir-lhe que possa apresentar uma candidatura independente. É claro que não sabemos se um independente terá meios e influência suficiente para ganhar, mas de certeza, como em Lisboa, dará uma grande bofetada de luva branca no seu e nos outros partidos.

Verificamos que apesar dos imediatos boicotes que a nossa Petição sofreu e que como é quase certo, afastaram de assinar muita gente, estarão patentes, mais de 250 assinaturas válidas. Certamente, serão de pessoas que como nós concordam que é preciso dar outro caminho a este concelho, não permitir que se transforme num subúrbio, desqualificado e sobrelotado. Ora essas assinaturas devem representar muito mais gente ainda.

Duvidamos que qualquer um dos actuais vereadores, obtivesse, pelos mesmos meios, os mesmos resultados. São talvez um sinal.

Percebemos bem que não se pode passar a vida, a mudar de vida, mas também acreditamos que estaria disposto a um esforço adicional, para que não se perca completamente o desenvolvimento que Loures teve e que, mais do que isso, se possa aspirar a um município moderno, agradável para viver e trabalhar, culto e informado, respeitando o seu passado, tradições e património e, especialmente, em que sejam as pessoas os destinatários das politicas, para além dos interesses pessoais e até partidários e ideológicos de cada um.

É por isso que na medida das nossas parcas possibilidades tudo faremos para que volte à Presidência de Loures.

Oxalá concorde connosco.

Receba os nossos melhores cumprimentos e respeito.

Os quatro de Virtruvio.

9 de Agosto de 2007

30 de julho de 2007

Carta a Virtruvio

Por motivos óbvios não sei se nos conhecemos pessoalmente.

Gostaria de lhe agradecer (ou de vos agradecer, caso sejam um colectivo) a gentileza, porventura imerecida, em considerar como possível a minha utilidade em futuras missões autárquicas.

Não fora o comprovado aumento da esperança média de vida, que, quando se tem a ventura de escapar às emboscadas precoces da grande ceifeira, nos possibilita olhar para horizontes temporais activos de mais vinte anos, mesmo quando já entradotes nos cinquentas, e seria obrigado a considerar a vossa ideia desfasada da minha condição etária. Por outro lado, face à pressão neoliberal no sentido do prolongamento da vida de trabalho obrigatório, é quase indeclinável estar disponível em solidariedade cívica, e não nos refastelarmos em confortáveis aposentadorias.

Relativamente à sua iniciativa gostaria de lhe transmitir que, com todos os seus méritos e inconveniências, deveria ser dada por acabada.

Poderei, caso o entenda adequado, esclarecer melhor, em missiva dirigida aos peticionários, e demais interessados, o meu estado de espírito perante a hipótese levantada. Passarei, porém, a adiantar alguns aspectos.

Desde já esclarecer, que, na minha qualidade de membro do PCP, que sou, não me parece adequado, possível e aconselhável, insistir numa via que, independentemente da sua bondade, verifico causar desconforto em muitos militantes e simpatizantes, que até poderiam “apoiar” a ideia, porque as circunstâncias concretas vividas em Loures são, de facto, preocupantes, mas não o fazem, nem farão, ou por questões de princípio, ou porque desconfiam dos seus verdadeiros objectivos.

Independentemente das diversas circunstâncias pessoais e familiares, e de motivações profissionais, que, no seu conjunto, me impulsionam para outros caminhos de actividade, que não os do exercício de funções políticas institucionais numa autarquia municipal, designadamente ao nível executivo, não rejeito absolutamente a hipótese de me disponibilizar e candidatar a tarefas nessa área, porque a vida já me revelou a importância decisiva que elas têm para as comunidades e territórios, e, portanto, admito teoricamente a possibilidade de vir a vislumbrar um projecto interessante, no qual o meu contributo, independentemente das funções específicas, pudesse ser positivo.

Contudo, e isso é incontornável, nunca me candidataria num contexto de divisão e, muito menos, de confronto com um qualquer projecto dimanado do PCP, mesmo que eu o considerasse menos acertado às circunstâncias em concreto. Se isso acontecesse, exprimiria a minha opinião discordante no sítio adequado, e se isso não me fosse permitido, guardaria silêncio.

No universo da política real, e no recanto da galáxia ideológica onde me encontro, o mundo dos silêncios não significa vazio, esterilidade e inacção diletante, e, sobretudo, permite esperar e distinguir, sob as ruidosas cacofonias oportunistas, e para além das amplificadas atoardas difamatórias que pontuam a actualidade, as notas cristalinas com que se construirão as novas sinfonias do progresso humano.

Isto não significa, no entanto, que desmereça o labor de todos os que, no meio do ruído e da poeira da incerteza, cerram os olhos e os punhos e vão pelo caminho do essencial, uma vez indicado como certo na defesa dos povos, independentemente dos erros e percalços comprovados, até porque sem esses lutadores brechtianos, de facto, nem sequer seria possível um novo tempo de sinfonias.

Este mundo do silêncio a que me refiro, não é um trem em viagem para o outro lado da barricada, que, no entanto, existe, em horários diversos e convidativos, e já foi por bastas vezes utilizado. É tão somente uma estação para retemperar as forças e as convicções daqueles que, como eu, não são permanentemente fortes e esclarecidos.

Parece-me, porém, que será aconselhável evitar a forte tentação de classificar esta estação como uma leprosaria, de onde não se retorna sem mácula, porque o número dos estagiários é enorme nesta gare do oriente, constituindo talvez um dos principais campos de recrutamento para as novas viagens globais.

Gostaria, ainda, de lhe dizer que comungo de muitas das preocupações por si manifestadas no documento inicial, e, sobretudo, partilho da opinião relativa ao desvario da actual gestão municipal, e às consequências negativas que ela tem para as terras de Loures.

E também registo, com alguma perplexidade, o atraso, pelo menos aparente, na construção de uma alternativa regeneradora.

Queira receber os melhores cumprimentos,

Demétrio Alves